Por Tatiane Salvático
Os desafios da sucessão familiar nas propriedades rurais do Brasil foram discutidos na palestra ministrada pelo jornalista Vico Iasi, apresentador do programa Globo Rural por 27 anos, na tarde desta sexta-feira (11), no Pavilhão Smart Agro, na ExpoLondrina. De acordo com dados apresentados por Iasi, menos da metade dos filhos de agricultores dizem ter o desejo de dar continuidade ao trabalho dos pais.
“As pesquisas indicam que os principais fatores para este comportamento são a falta de credibilidade e investimento dado à tecnologia feita pelos pais. Então, quando a propriedade não tem a rentabilidade desejada por esses jovens, eles se sentem desmotivados. Outra coisa que desmotiva é a falta de investimento e credibilidade em tecnologia e pesquisa por parte genitores ”, afirma Iasi. A pesquisa utilizada pelo jornalista ouviu 743 jovens do Rio Grande do Sul.
Em contrapartida, jovens que veem que os pais têm uma boa quantidade terras, ou que têm área que eles consideram que geram boa remuneração, se dizem bastante motivados e querem fazer a sucessão no campo.
O jornalista lembra que nas últimas décadas, o agronegócio mudou muito graças ao avanço tecnológico, especialmente de pesquisa aplicada. “Antigamente só se aumentava produção se a área fosse aumentada. Hoje é possível aumentar a produção da área. Graças à ciência, é possível aumentar três, quatro vezes a produtividade da mesma área. É isso que os jovens produtores acreditam. É só com isso que eles se veem como sucessores. ”
Marco tecnológico mudou o agronegócio brasileiro
Para Vico Iasi, apesar da vocação agrícola brasileira, até o final da década de 1960 o País era um “fazendão rústico”. “Já erámos, claro, conhecidos como produtores seculares de cana-de-açúcar, conhecidos como grandes produtores de café e de boi, mas éramos um país de baixa tecnologia, a partir da década de 1970 a coisa muda. ”
O primeiro grande marco tecnológico foi a criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em 1973. Desde a sua criação até 1976, a Embrapa investiu em enviar pesquisadores brasileiros para universidades reconhecidas dos Estados Unidos para que eles pudessem estudar variações genéticas que, mais tarde, seriam tropicalizadas. Atualmente a Embrapa conta com 48 centros pesquisas, 8 mil funcionários e mais de 2 mil pesquisadores.
“Isso é simbólico. Todas as pesquisas são integradas. Apesar de cada centro respeitar as vocações de cada região onde estão instalados, todos se conversam, estão integrados. Essa atuação da Embrapa mudou toda forma de plantar no Brasil”, salienta Iasi.
O que esperar do futuro da sucessão familiar no Brasil?
O futuro da sucessão familiar é um ponto de preocupação para o setor do agronegócio brasileiro. Atual força econômica, o agro da “porteira para dentro”, representa 6% do PIB do país. Já as cadeias agroindústrias, 22%. Na balança comercial, o setor é responsável por 49% das exportações e gera 28 milhões de empregos.
“Estamos em um momento de incerteza sobre a sucessão no Brasil, o que já aconteceu na França, que é um país bastante rural. A economia, o turismo e a tradição são muito ligados aos queijos que é dependente da cultura agrícola do leite. O ex-presidente Charles de Gaulle dizia que como o país tem mais variedades de queijo do que dias do ano, o campo francês não pode parar. ”
Vico Iasi conta que o país, que tem território equivalente ao estado de Minas Gerais – o que é considerado grande para a Europa – tinha cerca de 1,5 milhão de produtores na década de 1970 e, atualmente, conta com pouco mais de 500 mil. “Isso se deu por conta do envelhecimento da população e, obviamente, por muitas pessoas terem optado por viver na cidade. ”
Hoje, 51% de quem está nas propriedades rurais tem mais de 55 anos. “Um movimento que começou na França há cerca de 20 anos já começou de uma forma tímida no Brasil. Pessoas que moram em grandes centros decidiram viver em pequenas propriedades, abrirem pequenas produções para terem uma melhor qualidade de vida. Aqui em cidades como Petrópolis, próximo ao Rio de Janeiro, e Atibaia, perto de São Paulo, já é possível ver isso acontecendo, mas não resolve a questão da sucessão familiar. É um movimento paralelo e diferente. ”
Fotografia: Ricardo Maia