Por Érika Zanon
O 10° Encontro Regional de Mulheres Rurais, promovido pelo Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR) e realizado nesta sexta-feira (11) na ExpoLondrina, reuniu centenas de participantes em um dia marcado por aprendizado, confraternização, troca de experiências e, principalmente, o fortalecimento da mulher do campo. O evento, já tradicional na programação da feira, tem como objetivo valorizar o papel feminino nas atividades rurais, promovendo a capacitação desse público, o acesso a informações, tecnologias e práticas que contribuam com a autonomia pessoal e o crescimento dos negócios conduzidos por elas.
Neste ano, o foco esteve no uso das ferramentas digitais e no letramento digital como formas de fortalecimento pessoal e profissional. O jornalista e professor Lucas Vieira de Araújo foi um dos palestrantes e falou sobre “Empoderamento Digital: Construindo Oportunidades para a Mulher Rural”. Ele abordou como as tecnologias podem ser aliadas na rotina dessas produtoras. “Hoje não dá mais para separar o digital da nossa vida, essas ferramentas estão presentes em tudo, inclusive no campo, e podem facilitar a vida no dia a dia e ajudar a alavancar os negócios”, disse.
Entre os exemplos de como a habilidade com esse universo digital pode fazer a diferença, Araújo destacou que as agricultoras precisam preencher formulários, podem acessar políticas públicas, divulgar seus produtos e até mesmo se proteger de golpes.
De maneira prática e acessível, Araújo ofereceu dicas simples para facilitar o uso das redes sociais, aplicativos e plataformas do governo, além de alertar sobre os cuidados com a segurança digital. “Muitas produtoras não têm familiaridade com essas ferramentas, algumas nem sabem ler e escrever. Então, nossa missão é descomplicar e mostrar que elas são, sim, capazes de dominar esse universo”, explicou.
Ele também destacou a importância da comunicação por áudio como uma alternativa inclusiva para quem enfrenta barreiras com a leitura e a escrita. Entre as dicas, o jornalista orientou as participantes a usarem fotos e vídeos para vender seus produtos, gravarem áudios curtos para se comunicar com os clientes, serem objetivas com as mensagens, falarem de forma clara e, o mais importante, ficarem muito atentas aos golpes que acontecem no ambiente digital.
Negócios e finanças digitais
Sheila Nazareth, assessora de negócios do Sicredi Dexis, também participou do evento e conversou com as produtoras sobre a inovação no sistema financeiro. “São muitas palavras em inglês, tantas nomenclaturas, PIX, Inteligência Artificial, termos que podem gerar confusão, mas que são importantes e essas mulheres precisam entender”, frisou Sheila, reforçando que a tecnologia pode multiplicar o desempenho dos negócios e, hoje, muitas transações e operações bancárias podem ser feitas sem que a produtora precise sair do campo, “é tudo digital”.
Experiência das produtoras
Entre as participantes, motivação e aprendizado eram as palavras-chave. Renê Aparecida Vaz Romero, agricultora e avicultora de Sertanópolis, participa do evento todos os anos e vê na iniciativa uma oportunidade real de capacitação, principalmente sobre o tema de hoje relativo à tecnologia. “A gente pensa que não é capaz, mas é. Eu fiz um curso de nota eletrônica, por exemplo, e agora já fazemos tudo pelo digital. Precisamos estar por dentro dessas novidades, não tem mais como ficar de fora desse ambiente digital”, contou Renê, que veio para o evento junto com um grupo de mulheres agricultoras e que também trabalham com artesanato.
Rosane Aparecida da Silva Inocêncio, produtora de Tamarana, também participa do encontro anualmente e reforçou a importância de acompanhar essa transformação digital para melhorar o desempenho do negócio. “A gente vende, compra, posta foto, negocia tudo pelo celular. Aprendi hoje a ter mais cuidado com golpes e a usar melhor as ferramentas. Cada palestra é um aprendizado diferente. A gente precisa estar atualizada para crescer”, disse a produtora que produz e comercializa uma variedade de itens na sua propriedade, entre eles arroz, feijão, frango, ovos, porco, legumes e frutas.
Evento tradicional
Representando a Sociedade Rural do Paraná (SRP), a primeira-dama Elaine El-Kadre participou da abertura do encontro e reforçou a importância do evento dentro da programação da ExpoLondrina. Para ela, o protagonismo feminino no campo é uma realidade que precisa estar visível também no universo digital. “Hoje, a mulher rural precisa saber se posicionar nas redes sociais. As mídias estão acessíveis e quem sabe usá-las tem mais chances de expor seu trabalho, conquistar clientes e ampliar seus negócios”, afirmou. Elaine destacou ainda que a conexão digital é, hoje, tão estratégica quanto a conexão presencial de outros tempos: “Se você não é visto, você não é lembrado. Meu pai já dizia isso antes mesmo da internet. Agora, essa visibilidade acontece pelo Instagram, Facebook e outras mídias e as mulheres não podem ficar fora disso.”
Participação de estudantes
A troca de saberes no Encontro não se limita às produtoras que já estão no dia a dia do campo. Estudantes de agronomia também marcaram presença e destacaram como a vivência no evento contribui para sua formação profissional e pessoal. Vitória Vianna de Oliveira, aluna da Universidade Estadual de Londrina (UEL), participou pela primeira vez e se impressionou com o espaço dedicado às mulheres rurais. “É bom ver esse encontro de gerações. A mulher está cada vez mais à frente da gestão da propriedade, seja no financeiro, na logística ou na produção. Se ela estiver equipada com ferramentas digitais, isso vira um diferencial enorme para o negócio da família”, afirmou.
Camilly Cavalieri de Andrade, também estudante de agronomia na UEL, reforçou a importância de eventos como esse para fortalecer a representatividade feminina no agro. “A interação entre as mulheres aqui é muito rica. Elas se fortalecem ao compartilhar experiências, e nós, como futuras profissionais, aprendemos muito observando isso”, frisou a estudante que participava do evento pela primeira vez.
Fotografia: Fernando Cremonez