Por Mariana Guerin
A cada ano que passa a pecuária prova-se como uma das atividades mais importantes da balança comercial brasileira. “Somos referência em pecuária para o mundo e temos a oportunidade de melhorar cada vez mais a rentabilidade e a qualidade do nosso produto com o uso inteligente de genética, manejo e tecnologia”, diz o diretor de Pecuária da Sociedade Rural do Paraná (SPR), Luigi Carrer Filho. Nesta quinta-feira (10), ele abriu o XI Simpósio de Eficiência em Produção e Reprodução Animal, que reuniu cerca de 180 produtores e estudantes no Recinto Milton Alcover, durante a ExpoLondrina.
O diretor da SRP lembra que são mais de 60 eventos dos mais diversos segmentos durante a feira, “difundindo tecnologia para o produtor e fazendo com que essa tecnologia aumente a produtividade e, no caso da pecuária, produza uma carne com mais qualidade”, declara Carrer Filho.
A programação do simpósio contou com sete palestras sobre temas relacionados à eficiência produtiva e reprodutiva de gado de corte e leite, como inseminação artificial em tempo fixo (IATF), produção de embriões, manejo sanitário, manejo nutricional e seleção de reprodutores.
“A escolha dos palestrantes é uma forma bastante estratégica de trazer a tecnologia que está sendo desenvolvida na universidade e tentar implementá-la no campo por meio de um evento de divulgação, com uma gama bastante grande de técnicos e profissionais. Hoje, uma das maiores dificuldades que nós temos é a pesquisa realmente ser aplicada no campo”, avalia o médico veterinário Fábio Morotti, pesquisador da Universidade Estadual de Londrina (UEL), um dos coordenadores do simpósio.
Ele cita que uma das palestras aborda estratégias farmacológicas para controle do ciclo estral. “Anualmente, a gente sempre traz novidades com relação a ajustes de protocolo para seleção de reprodutores, produção de embrião, atualizações para a seleção de uma doadora, de uma receptora.”
Na opinião de Morotti, a maior dificuldade que a pesquisa ainda tem para fazer a técnica efetivamente chegar no campo é a atualização dos profissionais. “Nós temos o maior rebanho comercial do mundo, temos muitos benefícios, mas quando a gente olha para alguns índices reprodutivos, a gente deixa desejar em muitas coisas.”
“Em contrapartida, temos alguns dos melhores pesquisadores do mundo. Ao olhar esses dois cenários, precisamos realmente ser mais efetivos. E eu acredito que é possível melhorar isso colocando mais profissionais dentro de um simpósio, de um congresso e, efetivamente, passar essa informação o produtor e convencê-lo de que realmente faz a diferença”, sugere o pesquisador.
O médico veterinário Roberto Sartori Filho é um dos maiores especialistas em reprodução animal do Brasil e apresentou as novidades no manejo reprodutivo de novilhas e vacas de corte durante o simpósio. “A gente tem feito vários experimentos refinando protocolos de IATF, trabalhando com novilhas chamadas de precocezinhas, novilhas de um ano de idade, e estimulando as novilhas a ciclarem antes de entrar no protocolo e testando, também, ajustes nesses protocolos para melhorar os resultados”, cita o pesquisador, que também tem analisado dados de perda gestacional e de transferência de embrião em sua pesquisa na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP).
“A gente tem trabalhado bastante em protocolos de ressincronização superprecoce que permitem, num intervalo de 42 dias, a oportunidade de uma fêmea emprenhar três vezes, seja por inseminação, seja como receptora de embrião”, comenta o pesquisador, destacando que a vantagem deste protocolo está em acelerar o tempo para emprenhar as vacas.
“Ou seja, a gente emprenha as vacas e as novilhas mais cedo na estação reprodutiva. E com isso a gente produz o bezerro mais cedo, que é um bezerro que tem melhor desempenho da desmama até o abate. Ele morre menos, porque está nascendo na hora certa e vai desmamar mais pesado e produzir mais carcaça lá no final”, explica Sartori Filho.
Conforme ele, a fêmeas que nascem antes também têm um melhor desempenho, principalmente quando são colocadas em reprodução. “Elas têm o que a gente chama de imprinting metabólico. Às vezes, lá na frente, não tem nem diferença de peso, mas elas são melhores em desempenho, inclusive na reprodução”, explica.
O pesquisador reforça que o grande ganho para o produtor é produzir o bezerro cedo. “Pelo uso de biotecnologias, a gente consegue, usando IATF, o programa de sincronização, trabalhar fêmeas que ainda não estão ciclando, seja vacas pós-parto recentes ou novilhas prépúberes. O custo benefício fecha a conta tranquilamente.”
“Se a gente comparar touro com IATF, é uma comparação economicamente tranquila de se fazer. Pelo ganho genético que o uso de reprodutores provados impõe, além do benefício de emprenhar as fêmeas mais cedo, é muito competitivo o uso da IATF nesses touros. Em algumas situações é até mais barato e em outras há um equilíbrio”, conclui Sartori Filho.
O poder da informação
A palestra de abertura do simpósio tratou de um tema muito importante, mas ainda pouco praticado pelos pecuaristas: como a análise de dados pode aumentar os resultados da propriedade. O médico veterinário Cesar Franzon, gerente da consultoria Metrika Pecuária Inteligente, destaca que o planejamento é essencial para a rentabilidade da atividade, em especial, saber quanto custa para produzir uma arroba de boi. “É preciso olhar para o negócio.”
Ele cita a importância de conhecer bem todas as etapas do ciclo pecuário. “Diminui o abate de fêmea, sobe o preço do boi. Aumenta o abate de fêmea, cai o preço do boi. Isso é cíclico”, reitera Franzon, reforçando que o produtor precisa saber enxergar esse ciclo com precisão. “É uma estratégia de mercado que pode ser usada de forma muito assertiva. Tem uma frase que eu gosto muito que diz: ‘Não existe a melhor fase da pecuária, a melhor localização, o melhor equilíbrio. Existe o melhor pecuarista’. Um bom líder faz toda a diferença para o negócio.”
Segundo o veterinário, existem quatro importantes indicadores que ajudam no planejamento de uma fazenda: desembolso por cabeça, que representa os gastos com investimento e manutenção do rebanho, GND, que é o ganho médio diário do gado, lotação, ou seja, quantas cabeças é possível alocar em um hectare de pasto, e o valor de venda, sobre o qual o produtor não tem controle. “Isso implica na margem de lucro e é importante saber que a produção e a margem de lucro andam sempre juntas.”
Na opinião do veterinário, a maior dificuldade do pecuarista ainda está em controlar esses indicadores, justamente porque ele não consegue monitorar as informações. “O monitoramento de informação ainda é difícil. As pessoas precisam ter disciplina e um software para organizar a coleta de dados. E como é que se constrói isso? Passo a passo, com planejamento”, ensina Franzon.
Ele reforça: “Eu tenho que saber o quanto de gado cabe no meu pasto, quanto vai ser aproximadamente o gênero desse rebanho para que eu possa ganhar dinheiro, senão eu não consigo manejar a lotação. Eu tenho que partir do quanto eu posso para atingir o possível”.
Planejar implica em qualificar e quantificar investimentos, manutenção, insumos pecuários e manejo reprodutivo e definir uma meta. “E o planejamento é simples: treinar pessoas, investir em processos e cumprir os processos. Se você fizer um arroz com feijão bem feito, o negócio vai para frente.”
Outra ferramenta que facilita o planejamento é a planilha de monitoramento 5W2H, que reúne informações como: o que eu vou fazer; qual o meu objetivo; quem será o responsável; quanto vai custar; onde e quando será o projeto. “É o processo de tudo. Coloca tudo por escrito e cumpre, mês a mês”, finaliza Cesar Franzon.
Fotos:Fernando Cremonez